Em um debate realizado nesta quinta-feira (23) na Câmara, especialistas em comunicação e em tecnologia apontaram que é possível ampliar a participação social no legislativo com a chegada da TV 3.0 e da Web 3.0. O evento integrou a jornada de debates “Tecnologias emergentes e o futuro da participação”, realizada pela Câmara dos Deputados em comemoração aos dez anos do LAB Hacker – Laboratório de Inovação da Câmara -, e teve parceria da Diretoria de Tecnologia e da Diretoria- executiva de Comunicação e Mídias Sociais da Câmara.
A TV 3.0, cujo padrão tecnológico deve ser definido pelo governo federal até o fim deste ano, significará uma convergência completa entre a TV tradicional e a internet, somada a um salto na qualidade de imagem que deve quadruplicar sua definição, acompanhado do chamado “som imersivo”, muito mais fiel à realidade. A TV 1.0 se refere à primeira geração, analógica, e a TV 2.0 é a geração digital do veículo, com melhor imagem, som e informações textuais adicionais. O principal avanço da terceira geração será a forma de consumo, mais parecida com o que é feito no celular – os canais serão substituídos por aplicativos e vão dialogar com uma série de outras funcionalidades do aparelho, como microfone e câmera, por exemplo.
Marcelo Moreno, professor de ciência da computação da Universidade Federal de Juiz de Fora, que lidera a equipe de Pesquisa e Desenvolvimento criada pelo Ministério das Comunicações e pelo Fórum Brasileiro da TV Digital, apresentou o atual estado de desenvolvimento do protótipo.
“A TV vai continuar funcionando com o sinal pelo ar, não precisa internet pra esse acesso. A TV não precisa estar conectada. Vai chegar uma alta qualidade de áudio e vídeo, uma interatividade básica. Mas, para ter realmente acesso às maiores opções de experiências imersivas, a gente precisa que os receptores estejam conectados. E talvez as políticas públicas precisem desse aspecto – de levar conectividade para esses receptores – por que é a partir dali que as pessoas vão poder ter acesso a informações sobre seus direitos que talvez elas não conheçam.”
Ainda não há um cronograma pra implantação da nova tecnologia, mas uma meta é que na Copa do Mundo de Futebol de 2026 já existam emissoras em condições de transmitir na nova tecnologia e televisores disponíveis no mercado. Durante os anos da transição entre TV 2.0 e 3.0, esses aparelhos terão que funcionar com o sistema atual e o futuro.
Os palestrantes sublinharam que os atributos das novas tecnologias ainda precisam ainda ser totalmente desenvolvidos, num trabalho cada vez mais conjunto entre profissionais de comunicação e de tecnologia da informação. Daniella Vieira, especialista em tecnologias emergentes do Sebrae Nacional, ressaltou que os usos da inteligência artificial estão apenas começando, e que uma internet mais inteligente e rápida tem potenciais ainda desconhecidos.
“A web hoje é um espaço no qual eu posso conectar máquinas, pessoas e suas necessidades. E nesse grande volume de dados eu posso colocar inteligência. Inclusive na TV. Nessa caminhada a gente vai pra aquilo que ainda é inimaginável.”
Na segunda parte do evento, durante a tarde, foram apresentados protótipos de participação desenvolvidos pela Câmara dos Deputados, como o Plenário Fácil e as audiências interativas, da Diretoria de Comunicação; a inteligência artificial Ulisses, da Diretoria de Tecnologia; e ainda os estudos iniciais da TV Câmara 3.0, desenvolvidos por um grupo de trabalho multidisciplinar, coordenado pela jornalista Daniela André.
“A gente tem acompanhado desde o início as discussões sobre TV 3.0. A Associação Brasileira de TVs e Rádios Legislativas (Astral) tem participado oficialmente do grupo de trabalho do Ministério das Comunicações. E a gente desenvolveu um protótipo no intuito de fomentar esse debate. A gente não pode, como serviço público, apenas ver a nova tecnologia. A gente tem que encontrar um propósito, e eu acho nosso propósito é muito claro, da educação política, da abertura para a cidadania.”
Edmundo Andrade, da Diretoria de Tecnologia, apresentou alguns usos da inteligência artificial (IA) para a interação com a população.
“Fizemos convênios com a Universidade de São Paulo para compreender as possiblidades da IA nas nossas áreas de negócio. Um exemplo é o agrupamento de comentários das enquetes, pra ajudar a ter insights sobre os pontos de vista da população sobre um determinado projeto de lei”, disse.
Jorge Paulo, coordenador de Participação de Inteligência da Diretoria-Executiva de Comunicação e Mídias Digitais, falou sobre a volta do principal mecanismo de engajamento do cidadão nos debates que ocorrem nas comissões da Câmara – as audiências interativas, criadas há mais de uma década com o nome de E-democracia.
“O debate é sempre muito qualificado por que as pessoas se sentem num ambiente protegido. Nas redes sociais, de maneira ampla, as pessoas se sentem acuadas, por causa de todo tipo de bullying que costuma acontecer.”