O transporte coletivo é uma necessidade diária para milhões de brasileiros, mas muitas vezes a qualidade do serviço deixa a desejar. O sufoco nos ônibus sem ar-condicionado é uma realidade enfrentada por grande parte da população, principalmente nas grandes cidades. Esse problema não é apenas uma questão de conforto, mas também de saúde, já que a falta de ventilação adequada pode aumentar o risco de doenças respiratórias e de desconforto em longas viagens.
A escolha política por não investir em ar-condicionado nos ônibus é uma das principais causas desse sofrimento. Em um cenário onde muitos municípios optam por direcionar recursos para outras áreas, o transporte público, que deveria ser uma prioridade, acaba sendo negligenciado. Ao contrário do que ocorre em outros países, onde o transporte coletivo se tornou mais eficiente quando pessoas de classes sociais mais altas começaram a utilizá-lo, no Brasil, esse serviço continua a ser visto como uma opção para os mais pobres.
A experiência em países como os Estados Unidos e na Europa demonstra que, quando o transporte coletivo é utilizado por pessoas de diferentes classes sociais, há uma pressão maior por melhorias. Isso se deve ao fato de que, quando as elites se tornam usuárias desse serviço, a demanda por qualidade aumenta e os governos se veem obrigados a oferecer um transporte mais confortável e eficiente. No Brasil, a realidade é bem diferente, e o transporte coletivo continua a ser subvalorizado por grande parte da população.
Além da falta de ar-condicionado, outros problemas estruturais e operacionais afetam o transporte público, como a superlotação, a falta de pontualidade e a má conservação dos veículos. Esses problemas são frequentemente negligenciados pelas autoridades municipais, que, muitas vezes, priorizam investimentos em outras áreas, deixando o transporte coletivo em segundo plano. A falta de compromisso com o bem-estar da população reflete uma escolha política que desconsidera as necessidades básicas da maioria dos cidadãos.
Em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, a implementação de ar-condicionado nos ônibus tem avançado lentamente, mas os investimentos ainda são insuficientes. Muitos ônibus continuam a operar em condições precárias, afetando diretamente o conforto dos passageiros, que precisam lidar com temperaturas altas e a falta de ventilação durante o trajeto. O resultado disso é um transporte coletivo desconfortável, que desestimula a utilização do serviço e agrava ainda mais os problemas de mobilidade urbana.
A escolha política de não priorizar a melhoria do transporte coletivo também está ligada a um cenário de falta de fiscalização e de incentivo para que as empresas de transporte cumpram com padrões mínimos de qualidade. Muitas vezes, as concessionárias têm pouca motivação para investir em melhorias, já que o modelo de concessão permite que elas operem de maneira eficiente apenas do ponto de vista financeiro, sem considerar a qualidade do serviço prestado à população.
Para que o transporte coletivo no Brasil seja mais eficiente e confortável, é necessário que o poder público adote uma postura mais proativa e invista em melhorias no sistema. A instalação de ar-condicionado nos ônibus é apenas uma das medidas possíveis, mas há muitos outros aspectos que precisam ser levados em consideração, como a modernização da infraestrutura e a criação de políticas públicas que incentivem o uso do transporte coletivo por todos, independentemente da classe social.
Por fim, a solução para o problema do sufoco nos ônibus sem ar-condicionado passa, em grande parte, por uma mudança de mentalidade política. Investir em transporte coletivo de qualidade é investir no bem-estar da população e no desenvolvimento sustentável das cidades. A escolha política por melhorias no transporte público não deve ser vista como um luxo, mas sim como uma necessidade para garantir a qualidade de vida de todos os cidadãos.